Coleção de literatura afrodescendente será lançada no dia 6/12
No dia 6 de dezembro será realizado o lançamento do livro "Literatura e Afrodescendência no Brasil: Antologia Crítica", na Biblioteca Mário de Andrade, das 19h às 21h. A biblioteca fica na rua da Consolação 94, Centro – São Paulo, fone: 3256-5270. São quatro volumes,cerca de 2028 páginas, reunindo 1cem escritores negros, desde a época colonial até hoje.
O primeiro volume, faz uma análise dos "Precursores"; que vão de Domingos Caldas Barbosa, Gonçalves Dias, Machado de Assis, Firmina dos Reis, a primeira a escrever um romance abolicionista, e o primeiro romance feminino, em 1857, e tantos outros surpreendentes autores, escondidos em sua identidade, pela nossa democracia racial.
Do segundo volume, "Consolidação"; fazem parte aqueles que usam das palavras escritas, para se reafirmarem em sua identidade negra: Oswaldo de Camargo, Mãe Beata de Iemanjá, Martinho da Vila, Geni Mariano Guimarães.
O Terceiro volume "Contemporaneidade"; compreende os autores nascidos na segunda metade do século XX, Cuti, Miriam Alves, Paulo Lins, Lia Vieira, Abelardo Rodrigues. No dizer do professor Duarte,"são escritores conscientes de sua condição de minoria perante o poder cultural, e que se valem em grande medida de caminhos alternativos para atingir seus leitores.
O quarto volume "História, teoria, polêmica" apresenta depoimentos de alguns escritores sobre o fazer literários, conceitos questionáveis do que é ou não literatura negra brasileira, afrobrasileira, afrodescendente. São acadêmicos (muitos pesquisadores dessa literatura), muitos questionamentos sobre o fazer literário, sobre uma forma íntima e necessária de ver o mundo do qual fazemos parte, com os nossos olhos e, não com o olhar ofuscado do outro.
Publicamos abaixo, dois poemas, por exemplo; que foram analisadas na antologia e que são de criação de Abelardo Rodrigues, que é metroviário, da estação Tatuapé. Publicou, o livro de poesia Memória da Noite, em 1978, participou de várias antologias, no Brasil e, no exterior.
Carregadores
de Abelardo Rodrigues*
Carregamos nos ombros
feito fardos
a luta, a dor dum passado
Carregamos nos ombros
feito dardo
a vergonha que não é nossa
Carregamos nos ombros
feito carga
o ferro de marca do feitor
Carregamos na mão
feito lança
as esperanças do que virá.
Miriam Alves, do livro Estrelas nos Dedos.
Vaga-Lume
de Abelardo Rodrigues*
A noite
-pálida Noite-
são nossos traços
negando fogo.
São gritos de arcanjos
descabelados
violados por Orixás
Ah Noite!
trago-te oferendas
de palavras
das quais se cantará a vida
dos tombadilhos de Améria.
*Abelardo Rodrigues é metroviário (estação Tatuapé). Publicou o livro de poesia Memória da Noite, em 1978, e participou de várias antologias, no Brasil e, no exterior.
