Portal da revista CARTA CAPITAL publica denúncias do Sindicato: colisão e queima de documentos

O Sindicato fez denúncia sobre a colisão entre trens no Pátio Jabaquara e a perda de cerca de 15 mil caixas de documentos da Cia do Metropolitano. O portal da revista Carta Capital apurou e divulgou a denúncia em matéria abaixo:


Metrô omite colisão entre trens em pátio de manutenção

Gabriel Bonis
portal revista CARTA CAPITAL

No pátio de manutenção da Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) no Jabaquara, parte dos vagões de dois trens está coberta por uma lona laranja. O plástico tenta esconder o resultado de um acidente ocorrido no sábado 1º, quando uma composição reformada se moveu sozinha e colidiu de frente com outro veículo que estava parado para revisão. Não houve feridos, mas a face dianteira e o interior do trem remodelado ficaram completamente destruídos.

O acidente na doca não deve representar problemas imediatos de segurança na linha azul do metrô, mas a omissão do episódio pela empresa desperta desconfianças. O caso se tornou público apenas na terça-feira 4, por pressão de uma denúncia do Sindicato dos Metroviários. E o episódio se junta a outro semelhante: a estatal escondeu por quatro meses a perda de mais de 15 mil caixas de seus documentos em um incêndio criminoso em julho. Só revelou o ocorrido no sábado, quando, coincidentemente, evitou passar informações sobre a colisão.

Este acidente envolve ainda outro aspecto polêmico. O trem responsável pelo choque foi reformado com outros veículos pelo consórcio Alstom/Siemens, o que levanta questionamentos sobre se há uma relação entre a colisão e as remodelações. Por enquanto, a Comissão Permanente de Segurança (Copese), composta por integrantes da manutenção, projeto e operação, investiga o caso e deve emitir um relatório entre 15 e 30 dias.

Até lá, a empresa não especula sobre as causas do acidente. “Não comento se a culpa foi da se modernização. Pode ser ou não, depende do relatório da Copese”, diz Milton Gioia, gerente de manutenção do Metrô, durante uma visita do deputado estadual Simão Pedro (PT) ao pátio no Jabaquara, na quarta-feira 5.

Não se sabe ainda o tamanho do prejuízo ou se há influência da reforma, mas o consórcio vencedor da licitação de remodelação entrou na mira do Ministério Público. Conforme CartaCapital divulgou em junho, o órgão instaurou inquérito para apurar os suspeitos contratos firmados pelo Metrô com as empresas responsáveis por este serviço. Em 2009, a estatal decidiu abrir concorrência para reformar 98 trens, alguns com mais de 30 anos de uso, ao custo total de 1,75 bilhão de reais. Na prática, o valor de cada composição reformada equivale a 86% do preço de um trem novo.

Frente do trem reformado ficou completamente destruída
Embora o Metrô evite especulações, entre os técnicos da empresa, que pediram para não serem identificados, a tese mais defendida é que o problema deriva da reforma do sistema e dos trens. Segundo eles, o sistema possui três modos de emergência: o “homem morto”, alavanca e botão de emergência. A falha teria ocorrido no “homem morto”, que para imediatamente o trem caso o operador solte um dos controles.  No momento do acidente, um operador havia acabado de deixar a cabine do trem remodelado.

Trabalhadores que presenciaram o choque relatam que a composição atingiu cerca de 15 quilômetros por hora e quase atingiu um técnico de manutenção. “Se fosse durante a semana, haveria vítimas porque poderiam ter pessoas trabalhando embaixo do trem. Foi gravíssimo”, disse um funcionário da estatal que não quis se identificar.

O veículo estava em uma parte dos trilhos alimentada automaticamente por eletricidade, o que pode ter contribuído para o incidente, de acordo com os técnicos do Metrô. Quando o operador fechou a porta, o sistema teria entendido que a ordem era para acelerar. Caso estivesse nos trilhos das docas de manutenção, isso não seria possível, pois a energia no local é acionada manualmente.

Caso não houvesse a colisão, acreditam os técnicos, o trem pegaria aceleração máxima e poderia chegar ao lado eletrizado do trilho em direção à estação Jabaquara do metrô. A possibilidade mais concreta é que ele descarrilharia antes de ameaçar os trens de passageiros.

O sindicato enviará uma petição ao MP solicitando “apuração urgente” do caso, omitido pelo Metrô por três dias. “Por que não comunicar um acidente, que é de interesse público? Vamos questionar a direção do Metrô sobre isso e queremos saber qual a relação deste acidente com outros”, indica Simão Pedro, autor da denúncia de superfaturamento nas reformas investigada pelo MP. A empresa alega que o “atraso” na divulgação ocorreu por ter sido um “acidente interno sem vítimas”.

Devido à colisão, foram retirados de circulação sete composições com características semelhantes ao trem que se movimentou sozinho. Todos reformados pela Alstom/Siemens. Enquanto não houver um parecer sobre os motivos da falha, os veículos não voltarão a atender os usuários.

O pátio do Jabaquara realiza a manutenção de cerca de 60 trens das linhas azul e verde. Em média, cada composição recebe revisão em ciclos inferiores a um mês.

Documentos queimados

Na sexta-feira 30, o Metrô publicou um edital informando que 15.399 caixas de seus documentos foram queimadas criminosamente em uma companhia em Itu, interior de São Paulo, na qual estavam armazenadas. O fato, no entanto, ocorreu em julho. “Como um sinistro que ocorre em julho só é comunicado à sociedade oficialmente no final de novembro?”, questiona Simão Pedro. O deputado protocolou um requerimento para convocar o presidente do Metrô, Peter Walker, a se explicar na Assembleia Legislativa de São Paulo.

Segundo o Metrô, as caixas foram queimadas após um grupo de nove pessoas armadas invadir o armazém para roubar computadores. Depois, eles espalharam gasolina no local e atearam fogo. Ao todo, foram perdidos 4% de todos os arquivo da empresa, como contratos assinados entre 1997 e 2011, análises das ocorrências de Copese entre 2006 a 2009 e relatórios dos “acidentes notáveis”.

O Metrô, que registrou um boletim de ocorrência e instaurou auditoria interna, alega que parte dos documentos estava digitalizada, mas não informou quais.

“A desculpa de que os ladrões foram roubar computadores e acabaram colocando fogo no depósito não tem lógica. A impressão é que o roubo é um disfarce de intenção criminosa para queimar arquivos no momento em que empresas como a Alston, Siemens e o Metrô passam por investigações de órgãos públicos”, sustentou o deputado.