Alstom orientou diretores a pagar propinas
Documentos enviados pela Procuradoria da Suíça ao Brasil no início de outubro confirmam a corrupção e pagamento de propina em contratos da Alstom no Metrô e na CPTM.
Em e-mail de 18 de novembro de 2004, o então presidente da Alstom no Brasil, José Luiz Alquéres, “recomenda enfaticamente” a diretores da empresa que utilizem os serviços do consultor Arthur Gomes Teixeira, apontado pelo Ministério Público como lobista e pagador de propinas a servidores de estatais do setor metroferroviário entre 1998 e 2003.
Teixeira, segundo as investigações do caso Alstom, era o elo da multinacional francesa com estatais do setor de transporte público.
Alquéres também destaca o “bom relacionamento” com governantes paulistas. “Temos um longo histórico de cooperação com as autoridades do Estado de São Paulo, onde fica localizada nossa planta”, escreveu na mensagem aos diretores. “O novo prefeito recém-eleito participa das negociações que vão nos permitir a reabertura da Mafersa como Alstom Lapa. O atual governador também participa”.
Na época, José Serra havia acabado de vencer a eleição municipal e o Palácio dos Bandeirantes estava sob gestão de Geraldo Alckmin, ambos do PSDB. A unidade Alstom Lapa estava mal das pernas em 2004. Com uma carteira minguada de contratos públicos e reduzidos investimentos, aquele setor da empresa, na zona oeste da capital, esteve na iminência de cerrar as portas.
Ao pedir empenho a seus comandados, Alquéres assinala a importância de conquistar novos contratos com o Metrô e a CPTM. Cita vagamente empreendimentos das estatais. "Tais projetos representam um total de cerca de 250 milhões de euros", observa. "Nesse período de mudanças sofremos duas grandes derrotas em leilões públicos, coisa que não ocorria há anos. Mas ainda podemos ter sucesso nos quatro projetos que o Estado de São Paulo vai negociar ou leiloar nas próximas semanas."
O então presidente da Alstom cita os "amigos políticos do governo" e diz confiar na recuperação da empresa. "O processo está avançando, começo a receber mensagens de parceiros em potencial, e, principalmente, dos amigos políticos do governo que apoiei pessoalmente. A Alstom deve estar presente, como no passado."
Um dos projetos que Alquéres mirava foi conquistado por um consórcio liderado pela Alstom, em 2005 – aditamento a um contrato firmado originalmente em 1995, no valor de R$ 223,5 milhões, que resultou na compra de 12 trens para a CPTM. O negócio tornou-se alvo de ação por improbidade movida pela promotoria de São Paulo, que identificou "grave irregularidade no sexto aditamento, verdadeira fraude à licitação e desvirtuamento total do contrato inicial". A investigação mostrou aumento de 73,69% no valor da compra.
Fonte: jornal O Estado de S. Paulo