Camila, presidente do Sindicato, fala sobre a GREVE que o que UNIU os trabalhadores do Metrô, CPTM e Sabesp
O que realmente me motivou a participar das ações contra as privatizações no dia 3 de outubro?
O governador Tarcísio de Freitas, o prefeito Ricardo Nunes e outras pessoas que não me conhecem foram a público, na grande imprensa, falar sobre minhas motivações para participar das mobilizações contra as privatizações que ocorreram ontem. Fui inclusive chamada para prestar esclarecimentos na Comissão de Política Urbana da Câmara Municipal de São Paulo, a partir do requerimento do vereador Rubinho Nunes.
Segundo eles, minhas motivações seriam político-partidárias. Estaria eu fazendo greve junto aos metroviários, ferroviários e trabalhadores da Sabesp, não para reivindicar nossos direitos e os direitos da população aos serviços públicos, mas para antecipar disputas políticas na cidade de São Paulo.
Então, sobre minhas motivações, digo quais são:
A primeira é humana: não creio que seja necessário ter filiação partidária para sentir empatia em relação a pessoas como a Dona Fátima, que ao ser entrevistada ontem, foi porta-voz do sofrimento dos trabalhadores que precisam utilizar os trens das linhas privadas de São Paulo, enfrentam o caos, e que todos os dias correm riscos da sua integridade física para se locomover. Mães com crianças de colo tendo que andar na brita quando o trem para no meio da via, senhoras já de idade tendo que descer do trem quebrado na altura de mais de um metro do chão sem plataforma. Não acho que esse sentimento seja exclusividade de pessoas filiadas ao PSOL. Qualquer ser humano deveria se indignar com essa situação. Me assusta que pessoas que têm cargos políticos de tamanha relevância não se indignem com as cenas que assistimos todos os dias nas linhas privatizadas. Lamento se na cabeça deles só existam interesses espúrios.
A segunda motivação é a defesa do meu ganha-pão: para além da minha filiação partidária, sou Agente de Estação do Metrô, e é com este salário que me sustento, minha função é organizar o fluxo de pessoas nas estações em horários de pico, conduzir pessoas com deficiência para que possam se locomover, prestar primeiros socorros para pessoas que têm mal súbito ou se acidentam nas estações, garantir o direito a gratuidade dos idosos liberando para eles as catracas, dar informações dos locais mais acessados nas imediações das estações como hospitais e escolas. Busco prestar meu serviço com a máxima excelência, apesar de muitas vezes não dar conta, já que faltam funcionários e sobra trabalho. Essas pessoas não sabem, mas a minha função vai simplesmente deixar de existir justamente por conta de um edital privatista de terceirização marcado para o dia 10 de outubro. Seu cancelamento era uma das pautas da nossa greve de ontem, que não foi atendida pelo governo. Fiz greve, também, por que posso perder meu posto de trabalho daqui a seis dias. Se isso não é uma motivação legítima, o que seria?
A terceira motivação: Eu sou presidenta do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, independente da minha filiação partidária. Represento a todos os metroviários, mesmo aqueles que não votaram na minha chapa, tanto os de tendência política de esquerda, como os de direita, independente de quem eles votam para prefeito ou governador. Na qualidade de representante de uma categoria, tenho obrigação de resistir e organizar a resistência quando essa categoria tem seus direitos ameaçados, como ocorre agora, com as terceirizações que tem editais marcados e a privatização anunciada pelo governador Tarcísio.
Não menos importante, o direito de greve e a liberdade de filiação partidária são direitos democráticos. Quem diz que isso é um problema deveria lembrar que a ditadura já terminou e que os que tentam fazê-la retornar foram derrotados nas últimas eleições.
Camila Lisboa é presidente do Sindicato dos Metroviários e Metroviárias de São Paulo