Crônica de um acidente anunciado

Há exatos dois meses o presidente do Sindicato, Altino, concedeu uma entrevista ao jornalista Luiz Carlos Azenha. O título da entrevista ("Um alerta sobre a segurança no Metrô de SP") antecipou o que aconteceu hoje (16 de maio), um acidente que poderia ter tido consequências maiores. Só não aconteceu uma tragédia graças à atuação de um operador de trem. O Sindicato dos Metroviários de São Paulo há tempos vem alertando sobre o sucateamento do sistema metroferroviário e as possíveis consequências. Vale a pena ler a entrevista completa.

Altino Prazeres: Um alerta sobre a segurança do Metrô de SP

publicado em 15 de março de 2012 às 15:07

por Luiz Carlos Azenha

O presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Altino de Melo Prazeres Júnior, faz um alerta sobre a segurança do sistema de trens de São Paulo, especificamente do Metrô: o padrão para substituição de peças e equipamentos deveria ser mais, não menos rigoroso, com a troca acontecendo com maior periodicidade.

Ele diz que as constantes panes, como a registrada ontem, são agravadas pela superlotação do sistema.

“É como um carro popular. Você pega um carro popular e enche de gente, põe a mala lotada de coisas, obviamente a possibilidade desse carro ter falhas, ter pane, ter tudo, é muito maior”, afirma

Hoje o sistema de trens e Metrô paulistano transporta cerca de 7 milhões de pessoas por dia. Na rede do Metrô, eram 2,5 milhões em 2007 e hoje são 4,5 milhões.

Não há perspectiva de melhoria a curto ou médio prazo: São Paulo está tão atrasada na construção do Metrô que ainda estende as linhas existentes, o que atrai novos passageiros mas ainda não oferece alternativas aos atuais usuários, o que só vai acontecer quando houver maior entrelaçamento das linhas, ou seja, quando um passageiro puder ir da zona Leste à zona Sul sem passar pelo centro.

É justamente pela ausência deste entrelaçamento que as panes, quando acontecem, acabam afetando milhões de passageiros de uma só vez.

“O investimento que o governo de São Paulo está fazendo aqui no Metrô e na ferrovia de São Paulo é muito aquém da necessidade. Infelizmente nós vamos conviver com os tipos de problemas que aconteceram ontem de manhã”, afirmou Altino.

Com a impossibilidade de fazer novas obras na marginal do Tietê ou de ampliação do Rodoanel, Altino acredita que a sociedade vai ser levada a exigir investimentos pesados para enfrentar o problema, não só em São Paulo, mas em outras regiões metropolitanas do Brasil.

O Sindicato tem criticado a terceirização dentro do Metrô paulista — 50% dos funcionários seriam terceirizados, na estimativa de Altino — e o que vê como relaxamento nas normas de substituição de peças. A programação de obsolescência delas não levaria em conta a sobrecarga dos equipamentos causada pela superlotação.

A combinação destes dois problemas, na opinião de Altino, enfraquece a manutenção e aumenta o risco de panes e acidentes.

Altino critica também a operação da linha 4 do Metrô, construída e operada a partir de uma parceria público-privada. Nela foi adotado o sistema de separação de trens conhecido como CBTC (Communications-Based Train Control), que permite maior aproximação entre os trens e dispensa os operadores.

“São Paulo está sendo cobaia deste sistema”, ele afirma. O CBTC já é utilizado em outros paises mas, segundo Altino, nunca em linhas tão superlotadas como a linha 4, a Amarela, que vai ligar a Luz à Vila Sônia.

O fato de o sistema operar no limite de sua capacidade recomenda maior prudência, já que as consequências de qualquer acidente seriam gravíssimas, diz ele em relação à linha 4.

Finalmente, Altino critica também os investimentos feitos no setor ferroviário. Ele concorda que é preciso melhorar a qualidade dos trens, mas afirma que isso não adianta se os investimentos não forem acompanhados por melhoria dos trilhos, do sistema elétrico e de toda a infraestrutura.

“O problema é que em geral os governos gostam de fazer show pirotécnico. Então, o que acontece? O cara inaugurou um trem moderno, sai na televisão, sai no jornal e depois na vida a real a coisa não é tão boa quanto foi na foto”, afirma.

Sem investimento em novos trens E na malha, não pode ser diminuído o intervalo entre as composições e a CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) tem de recorrer a estratégias que retardem a entrada de passageiros em algumas estações, nos horários de pico, como habilitar apenas um pequeno número de catracas ou regular as catracas para que operem mais vagarosamente. Limitar a entrada de passageiros, aliás, já é uma estratégia comumente aplicada em algumas estações de metrô de São Paulo, em horários de pico.

Para ouvir a entrevista completa, clique abaixo:
http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/altino-prazeres-um-alerta-sobre-a-seguranca-do-metro-de-sp.html