Ocorrência da bengala em Penha – Autor: Cleone Pereira
Por volta das 16h25 do dia 02 de dezembro, fui acionado para retirar uma bengala na via 02 de Penha.
Lá chegando, depois de breve procura, encontrei a dona da dita, sentada num banco a leste da plataforma.
Estava um pouco assustada com o ocorrido, e pediu desculpas pelo transtorno. Acalmei-a, e em seguida tomamos as medidas de praxe para proceder a retirada da bengala.
Logo após fiquei sabendo da sua história: ela se chama Janaina Mariano da Silva, tem 27 anos, é paraplégica de nascença, (usa um par de bengalas canadense), mora no jardim Keralux (Zona Leste), e tem um sorriso contagiante.
Usa o Metrô três vezes por semana para fazer fisioterapia na Lapa. Na tarde do dia 02 de setembro deste ano, enquanto esperava para embarcar no Metrô em Barra Funda, o Operador de Trem (Joaquim Martins) olhou para ela, sorriu e a cumprimentou. Ela nem ia naquele trem. Mas, diante do tratamento especial, ela se encheu de alegria e embarcou. Já sentada, o operador abriu a porta interna do trem e perguntou onde ela ia descer. Ela disse: Penha. Ele disse: fique tranquila, quando chegar lá, eu facilitarei o seu desembarque.
Encantada com tamanha gentileza ela veio “flutuando” … Ao descer em Penha foi até a cabine, agradeceu, e trocaram algumas palavras. Foi para casa radiante. Nascia um sentimento inesquecível. Seu coração ficou a mil. Pensava: Pôxa, Ele me viu!
O tempo passou e ela não viu mais o Joaquim. Também não esquecia aquele acontecimento.
No dia 09 de novembro, ela se encheu de coragem e fez plantão na plataforma de Barra funda, e finalmente conseguiu vê-lo novamente. Trocaram algumas palavras, e ela foi para casa feliz da vida.
No dia 02de dezembro ela decidiu ver o Joaquim mais uma vez, e lhe dar um presente. Comprou um chaveirinho (do Santos) e foi para o ponto de espera (Estação Barra Funda).
Quando o trem do Joaquim alinhou na plataforma, devido a sua dificuldade de locomoção, não deu tempo de entregar o presente. Embarcou no trem com destino a Estação Penha para realizar o seu desejo.
No trajeto vinha se deliciando ao ouvir a voz do Joaquim: “próxima estação…” Em Penha, ao entregar o presente, a emoção era tanta que ela se desiquilibrou e sua bengala caiu na via.
Desesperada, ela foi socorrida por usuários que a conduziram ao citado banco. O próprio operador comunicou o fato ao CCO e seguiu viagem, tão logo ela se encontrava em local seguro.
Não deu nem tempo para agradecer pelo presente. Certamente ele ficou preocupado com o desfecho daquele quase acidente. Pelo rádio eu acompanhei a comunicação, e prontamente me dirigi ao local para as devidas providências.
Ao receber a bengala de volta, Janaina se sentiu aliviada. Mas faltava algo. Queria informar ao Joaquim que estava tudo bem com ela. Disse que iria aguardar o seu retorno de Itaquera no extremo oeste da plataforma.
Dali mesmo liguei para o posto de operadores em Itaquera e fiquei sabendo que o Joaquim iria demorar uns 40 minutos para passar de volta por Penha. Diante do contexto permiti que ela falasse um pouco com ele. Durante a conversa a sua expressão demonstrava extrema alegria. Concluído o atendimento, ela foi para casa, feliz. Com sua bengala, cheia de emoção.
Um pequeno gesto faz toda diferença no relacionamento com as pessoas. Principalmente perante alguém que quase sempre é tratado com indiferença.
O Joaquim se tornou um ídolo para a Janaina, simplesmente por uma atenção especial. E ela não espera nada mais além disso.