Porque apoiamos a doação do Sindicato para a fiança dos lutadores na USP
No dia 9 de novembro foi aprovado em assembleia da categoria, por esmagadora maioria, apoio à doação de três salários mínimos para o pagamento das fianças dos lutadores na USP. Esse fato abriu uma importante polêmica dentro da categoria, não só em torno do apoio financeiro, mais também do apoio político a essa luta. Nós, trabalhadores da base, viemos por meio desta carta expressar nosso total apoio à medida adotada pelo Sindicato, e também a essa luta. O objetivo dessa carta é mostrar a luta da USP de um outro ponto de vista, diferente do que a mídia enfia em nossas cabeças.
A mídia veicula que se trata apenas de uma “baderna” orquestrada por rebeldes e maconheiros sem causa. Temos que ficar atentos, pois essa é a mesma mídia que, quando ameaçamos fazer greve, imediatamente nos ataca dizendo que somos privilegiados, cheios de direitos, que iremos prejudicar toda a população, apenas por nossos interesses corporativistas, fazendo uma ininterrupta campanha contra nossa luta, porém sem NUNCA mostrar o nosso ponto de vista e os problemas da categoria. E que não são só nossos, dos metroviários, mas daqueles que se utilizam do nosso sistema.
Os problemas enfrentados na USP são os mesmos que os nossos (e a dificuldade de fazer com que a população compreenda tais problemas existentes no sistema, são da mesma grandeza). O governo cada vez mais sucateia e privatiza o Metrô. Apesar da campanha em torno da expansão, sabemos que essa parca “expansão” se da em base à falta crônica de funcionários, falta de investimento, insuficiente extensão das linhas, terceirizações, e agora principalmente no perigo da privatização “velada” via PPP que tende só a crescer e acabar com a nossa categoria.
Esse é o mesmo projeto para a USP. O projeto de universidade de “excelência” é uma universidade com cada vez menos vagas, menos investimentos nos cursos, nos salários dos professores que acabam indo embora para as faculdades privadas, terceirizações em todos os setores e também ataques aos direitos dos trabalhadores. Ameaças que rondam no Metrô como o desligamento dos aposentados, foram efetivadas esse ano na USP com mais de 260 demissões, abrindo um precedente perigoso para todo funcionalismo publico. Isso mostra que os ataques à USP são parte do mesmo plano privatista dos serviços públicos que afeta o Metrô. Além dos cursos que não atendem ao mercado terem suas vagas reduzidas, ou ainda pior, serem fechados em definitivo.
Para implementar esse projeto, o governo precisa reprimir e criminalizar os setores que a ele se opõem. Na USP há dezenas de trabalhadores processados por lutar, mais de metade da diretoria do sindicato com ameaça de demissão e inclusive prisão, alem da demissão de um histórico dirigente do Sintusp. E também mais de 20 estudantes na mesma situação. É esse o tratamento que o governo dá aos lutadores.
A prisão dos estudantes com maconha foi simplesmente um estopim que incendiou uma indignação já existente. Como ficou claro na greve de trabalhadores da USP em 2009, a polícia esta lá para desmontar os piquetes, reprimir e prender trabalhadores e estudantes. No Metrô também não é diferente. A polícia, braço armado do estado, cumpriu o mesmo papel em anos passados: o de reprimir piquetes nas estações do Metrô em greves de trabalhadores sendo peça importante para as punições, como as mais de 60 demissões ocorridas na última greve, em 2007. Não podemos esquecer também que é esta mesma polícia que assume nossos postos de trabalho nas nossas greves, fazendo o Metrô funcionar de forma precarizada e, principalmente, furando nossa greve com o PAESE.
A ocupação da reitoria faz parte de um dos métodos de resistência dos trabalhadores e estudantes, método esse muito atacado por todos como algo ilegal e autoritário. No Metrô é a mesma coisa. O direito de greve é um direito garantido na constituição, porem o estado afirma que é necessário manter uma alta porcentagem dos trens rodando. Todos sabem que não existe greve com 90% dos trabalhadores em serviço, como foi determinado na última campanha. Se tentarmos paralisar de verdade, ouviremos a mesma coisa: que somos autoritários e estaremos contra a lei, podendo arcar com multas e processos e demissões injustas como já ocorreram em épocas passadas.
Por esses motivos apoiamos a luta na USP e apoiamos incondicionalmente a contribuição do Sindicato para libertar os 73 presos políticos. Entendemos que muitas reivindicações que precisamos levar adiante só poderão ser atingidas em conjunto com outras categorias. E isso passa pela defesa de todos os lutadores que se colocam contra o governo e o projeto privatista existente, como no caso dos 73 estudantes presos na USP. Defende-los é defender a nós mesmos e ao nosso direito de lutar por melhorias. Precisamos fortalecer a campanha contra os inquéritos desses presos, com abaixo-assinados e apoio.
Metroviários em defesa dos lutadores*
*Esse texto foi escrito por 14 metroviários da operação-estações (Linhas 1, 2, 3 e 5) e da manutenção (PAT)