Publicidade traz jingle, plágio e promessas
A linha 4 do Metrô e a expansão de outros trechos têm sido anunciadas exaustivamente em horário nobre da televisão brasileira. Durante o tradicional especial de final de ano do cantor Roberto Carlos na TV Globo, os intervalos comerciais continham até dois filmes de 30 segundos do Metrô e do governo estadual.
A série de comerciais é comandada pelo ator global Dan Stulbach, que anuncia as vantagens da expansão do Metrô paulista. Os usuários, em festa, soltam bexigas, erguem os braços e comemoram as inaugurações. Uma inserção de 2 minutos veiculada no intervalo do dominical “Fantástico” contém um claro plágio da cena final do filme indiano “Quem quer ser um milionário”, com dezenas de pessoas realizando coreografias na plataforma de uma estação.
O texto lido pelo ator parece não temer a acusação de propaganda eleitoral antecipada. “A partir de agora é assim: uma inauguração atrás da outra”, promete a voz do ator, enquanto as imagens mostram a alegria na estação Sacomã, recém-inaugurada.
Essas inserções são produzidas pela Duda Propaganda, empresa do marqueteiro político Duda Mendonça, que ganhou do governo estadual um contrato de R$ 14 milhões por seis meses de serviços prestados. A empresa do marqueteiro Nizan Guanaes, filiado ao PSDB, recebeu R$ 11 milhões para outros comerciais.
Em 2008, o governo planejou um gasto de R$ 57 milhões em publicidade do Metrô e da CPTM, que opera os trens urbanos na região metropolitana de São Paulo. Segundo a Secretaria de Transportes, o objetivo das inserções comerciais é realizar “campanhas de esclarecimento e informação dos usuários e da população em geral, assim como para comunicar as medidas de modernização e ampliação da rede de transporte coletivo sobre trilhos na região metropolitana de São Paulo”.
Antecipação de campanha
Para o Sindicato dos Metroviários, no entanto, as peças publicitárias configuram campanha eleitoral antecipada. “É um momento pré-eleitoral. É muito ruim para a população a forma como isso vem sendo feito. Se tivessem a mesma agilidade e contundência na execução do orçamento, não teria problema nenhum. Mas depois de outubro quando acabarem as eleições, não sabemos o que vai acontecer”, afirma Manuel Xavier.
A bancada do PT na Assembléia Legislativa de São Paulo já entrou com três representações no Ministério Público Estadual para barrar propagandas do governo do Estado que exaltam a gestão tucana em vez de prestar esclarecimentos e informações sobre serviços.
Num dos casos, o PT exige que o governo devolva aos cofres públicos o dinheiro que foi investido em publicidades da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado) veiculadas em Estados do Norte-Nordeste, onde a empresa não tem qualquer atuação – e o governador goza de pouco prestígio eleitoral.
Só em ano eleitoral
Nos quase 16 anos de governo do PSDB em São Paulo, foram entregues 15 novas estações, sendo que apenas uma delas, a Alto do Ipiranga, foi entregue em um ano impar (2007). Ou seja, todas as outras foram concluídas em anos eleitorais.
A linha Amarela 4 – Amarela deve começar a operar com apenas duas estações, Paulista-Faria Lima, até o final de março. Em abril, o governador José Serra deve se licenciar do cargo para se candidatar à presidência. Mais quatro estações serão inauguradas até o final do ano. As outras cinco previstas devem ser concluídas em 2012 e 2014.
Mais lotado do mundo
O ritmo acelerado propagandeado pela publicidade contrasta com os dados dos 16 anos de PSDB. Foram apenas 28 km de Metrô construídos. Desse total, 8 km são da linha lilás, que liga o Capão Redondo, na Zona Sul, ao Largo Treze, na mesma região. Esse trecho não tem conexão com nenhuma outra linha do Metrô. As outras ampliações se deram na linha verde e vermelha.
Esse crescimento tímido da malha viária não tem comportado o crescimento da demanda pelo transporte. O Metrô de São Paulo é considerado pela CoMET (Comunidade de Metrôs) como o mais lotado do mundo, com 10 milhões de passageiros por quilômetro de linha. Mesmo com o incremento que será propiciado com a linha 4, o Metrô paulista continuará ostentando esse título e ainda será o menor entre as 10 maiores metrópoles do mundo.
Por Renato Godoy de Toledo, publicado na edição número 363 do jornal Brasil de Fato